O bom senso determina que não
devemos atrair para círculos sociais, temas de natureza muito polemicas e que
refletem convicções pessoais ou crenças.
Assim é que os mais sensatos e
experientes nos aconselham a não bancar e nem pagar para ver contra opiniões de
terceiros no que se refere à política, religião e futebol.
A corrupção vem nos últimos
tempos se insinuando em todas as camadas da teia social e entrando na categoria
destes temas perigosos e de terreno movediço.
Mas enfim é da natureza humana em
sua inquietude este “cutucar a onça” com vara curta.
Quando caminhamos no tema
“corrupção” amparados em nossa limitada racionalidade e na pobreza da lógica
empírica corremos realmente o risco de pedir para “parar o mundo que eu quero
descer”, tal é a certeza que nos acomete sobre a fragilidade moral da
consciência humana e a sua facilidade em moldar seu julgamento a sua
conveniência (travestida freqüentemente de necessidade).
Mesmo convocando em nosso auxilio cientistas
políticos e mestres no pensamento analítico, não conseguimos nos desvencilhar
desta armadilha que é correr atrás do próprio rabo, e que a complexidade de
nossos argumentos tenta em vão disfarçar.
A conclusão obvia que podemos
chegar como resultado desta lógica nanica e desta limitada racionalidade é de
que a corrupção é uma questão de oportunidade e necessidade.
Isto corresponderia de certa
forma dizer que cada homem tem seu preço, e que a seu momento todos nós seremos
atraídos pelo “canto da sereia” ou seduzidos pelo "bezerro de ouro”, como
imposição irrecorrível da nossa natureza trapaceira.
No que se refere ao ser humano
mediano isto pode representar o escancaramento de uma verdade assustadora, mas
inquestionável e isto pode ser facilmente constatado.
Quantos de nós podemos reconhecer
honestamente com nossos travesseiros, que diante de uma oportunidade de
apossarmos de alguma carteira perdida (com identidade dentro), não cederíamos à
tentação de nos apossarmos de bens alheios com o argumento de que "achado
não é roubado"?
Se de um lado somos, de certa
forma, rendidos por tais argumentos e preparados para saltarmos com
determinação no próximo cavalo arriado que passar ao nosso alcance, mesmo que
ele esteja a galope fora de sua pista legal e moral, não podemos prescindir, em
nossas analises filosóficas de outros ingredientes, até por desencargo de
consciência.
A este respeito, inquiri de certa
feita a um amigo, que se dizia um ateu convicto, sobre a educação de princípios
cristãos que ele, de forma intransigente, impunha à sua filha. Ele me
respondeu: "por via das duvidas".
Assim é que antes de cairmos de
boca no mel da corrupção devidamente desprovidos de freios morais e éticos, devemos
parar para pensar.
Precisamos antes, buscar até por
via das dúvidas, novas referências com aqueles personagens da história da
humanidade que são as reses que se desgarram da manada para nos ditar novos
rumos e puxar a evolução da consciência humana.
Mesmo sabendo que errar é humano,
não podemos admitir que em função disto devamos errar de forma corriqueira,
rotineira, à vontade e com todas as velas de nossos vícios desfraldadas a favor
dos ventos das oportunidades e necessidades.
Mesmo e principalmente quando
cedemos ao erro por imposição de nossa baixa natureza, devemos, via das
dúvidas, manter uma pulga atrás da orelha, nos picando quanto às conseqüências
futuras e definitivas de nossas rendições.
Isto é claro, para quem acredita
em outros planos da evolução e acha que a vida que vivemos neste planeta é
apenas um tênue sopro diante da eternidade.
João Drummond
João Drummond